João de Barro (Braguinha)
Numa certa manhã de inverno uma formiga saía para o seu
trabalho diário.
Já ia longe procurar comida quando um floco de neve caiu,
prendendo o seu pézinho.
Aflita, vendo que ali poderia morrer de fome e frio, a
formiga olhou para o Sol e pediu:
- Sol, tu que és tão forte, derreta a neve e desprenda o meu
pézinho?
E o Sol, indiferente, respondeu:
- Mais forte que eu é o muro que me tampa.
Então a pobre formiguinha disse:
- Muro, tu que és tão forte, que tampa o Sol, que derrete a
neve, desprenda o meu pezinho? E o muro rapidamente respondeu:
- Mais forte que eu é o rato, que me rói.
A formiga, quase sem fôlego, perguntou:
- Rato, tu que és tão forte, que rói o muro, que tampa o
Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pézinho?
E o rato falou bem rápido:
- Mais forte que eu é o gato que me come.
A formiga então perguntou ao gato:
- Tu que és tão forte, que come o rato, que rói o muro, que
tampa o Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pézinho?
O gato responde sem demora:
- Mais forte que eu é o cachorro, que me persegue.
A formiguinha estava cansada e, mesmo assim, perguntou ao
cachorro:
- Tu que és tão forte, que persegue o gato, que come o rato,
que rói o muro, que tampa o Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pézinho?
- Mais forte que eu é o homem, que me bate.
Pobre formiga! Quase sem força, perguntou ao homem:
- Tu que és tão forte, que bate no cachorro, que persegue o
gato, que come o rato, que rói o muro, que tampa o Sol, que derrete a neve,
desprenda o meu pézinho?
O homem olhou para a formiga e respondeu:
- Mais forte que eu é Deus, que tudo pode.
A formiga olhou para o céu e perguntou a Deus:
- Tu que és tão forte que tudo pode, desprenda o meu pézinho?
E Deus, que ouve todas as orações pediu à primavera que
chegasse com seu carro dourado triunfal enchendo de flores os campos e de luz
os caminhos, e vendo que a formiga estava quase morrendo, levou-a para um lugar
onde não há inverno e nem verão e onde as flores permanecem para sempre.